Domingo,
20 de Outubro de 2024
XXIX Semana
do Tempo Comum – Ano B
Dia
Mundial das Missões
Is 53, 2.3.10-11; Sal 32; Heb
4, 14-16; Mc 10, 35-45
O tema
escolhido pelo Papa Francisco para o Dia Mundial das Missões é: “Ide e convidai
a todos para o banquete” (cf. Mt 22, 9). O banquete é o das núpcias do
Filho, d’Aquele que vem para desposar toda a humanidade e que, por isso, quer
convidar a todos para o banquete nupcial. Ele diz: “Bebereis o cálice que Eu
vou beber e sereis baptizados com o baptismo com que Eu vou ser baptizado.” O
que é este baptismo para Jesus senão mergulhar na nossa humanidade desde o
nascimento até à Sua paixão e morte, quando dará a Sua vida por muitos? O
Esposo foi provado em todos os sentidos e oferece-nos um amor de compaixão, de
misericórdia e de libertação (Salmo do dia). Mas, sobretudo, oferece-nos em
troca a Sua vida: que maior graça, que maior dom haverá! Somos convidados para
um casamento sublime, maravilhoso, misericordioso (segunda leitura)!
O Esposo
fala de servir-nos, o que não faz parte dos nossos hábitos nupciais. Ele é o
servo que foi esmagado pelo sofrimento e que vai reclamar a multidão dos Seus
irmãos e irmãs em humanidade (primeira leitura). Assim, no menu do banquete, Ele
oferece-Se para nos servir a salvação, nada menos. O Seu sacrifício, oferecido
na Sagrada Eucaristia, é uma graça que cura a nossa humanidade ferida. Sim,
esperamos d’Ele a nossa vida nova, canta o Salmo, que o Seu amor esteja sobre
nós, Ele é a nossa esperança. Convidemos a todos para o banquete da Eucaristia,
para as núpcias do Cordeiro: esta é a nossa missão universal, ad gentes,
a todos os povos. Na sua mensagem para hoje, o Papa Francisco diz-nos: “Enquanto
o mundo propõe os vários «banquetes» do consumismo, do bem-estar egoísta, da
acumulação, do individualismo, o Evangelho chama a todos para o banquete divino
onde reinam a alegria, a partilha, a justiça, a fraternidade, na comunhão com
Deus e com os outros. Temos esta plenitude de vida, dom de Cristo, antecipada
já agora no banquete da Eucaristia, que a Igreja celebra por mandato do Senhor e
em Sua memória. Por isso o convite ao banquete escatológico, que levamos a
todos na missão evangelizadora, está intrinsecamente ligado ao convite para a
mesa eucarística, onde o Senhor nos alimenta com a Sua Palavra e com o Seu
Corpo e Sangue” (Mensagem para o Dia Mundial das Missões 2024).
Olhemos para
a vida de uma mulher baptizada para ver o que significa receber a graça de
servir os nossos entes queridos, até ao ponto de beber o cálice do sofrimento e
do sacrifício. O Papa Francisco dá-nos o exemplo de Josefina Bakhita, do Sudão:
“Nascida no Darfur – o martirizado Darfur! – em 1869, foi raptada da sua
família com sete anos e feita escrava. [...] Teve oito donos, um vendia-a a
outro. Os sofrimentos
físicos e morais que padeceu na infância deixaram-na sem identidade. Sofreu
maldades e violências: no seu corpo trazia mais de cem cicatrizes. Mas ela
própria testemunhou: “Como escrava, nunca desesperei, porque sentia uma força
misteriosa que me sustentava”. [...] Qual é o segredo de Santa Bakhita? Sabemos
que muitas vezes a pessoa ferida, por sua vez, fere; o oprimido torna-se
facilmente opressor. No entanto, a vocação dos oprimidos é libertar-se a si
próprios e aos seus opressores, tornando-se restauradores de humanidade. Só na
debilidade dos oprimidos se pode revelar a força do amor de Deus, que liberta
ambos. Santa Bakhita exprime muito bem esta verdade.
“Um dia, o
seu tutor dá-lhe um pequeno crucifixo, e ela, que nunca tinha possuído nada,
conserva-o ciosamente como um tesouro. Fitando-o, experimenta uma libertação
interior, porque se sente compreendida e amada e, portanto, capaz de
compreender e amar: este é o início. [...]
Com efeito, dirá: “O amor de Deus sempre me acompanhou de modo misterioso... O
Senhor amou-me tanto: é preciso amar todos... É preciso compadecer-se!”. Esta é
a alma de Bakhita! Na verdade, com-padecer significa tanto padecer
com as vítimas de tanta desumanidade presente no mundo, como também compadecer-se
de quem comete erros e injustiças, não justificando, mas humanizando. Esta é a
carícia que ela nos ensina: humanizar! Quando entramos na lógica da luta, da
divisão entre nós, dos maus sentimentos, uns contra os outros, perdemos a
humanidade. E muitas vezes pensamos que precisamos de humanidade, que devemos
ser mais humanos. E esta é a tarefa que Santa Bakhita nos ensina: humanizar,
humanizar-nos a nós mesmos e humanizar os outros.
“Santa
Bakhita, que se tornou cristã, é transformada pelas palavras de Cristo, que
meditava diariamente: «Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem!» (Lc
23, 34). [...] Podemos
dizer que a vida de Santa Bakhita se tornou uma parábola existencial do
perdão. Como é bom dizer de uma pessoa: “Foi capaz, foi sempre capaz de
perdoar”. [...] O perdão libertou-a. O perdão recebido, primeiro através do
amor misericordioso de Deus, e depois o perdão oferecido, fizeram dela uma
mulher livre, alegre, capaz de amar.
“Bakhita
pôde viver o serviço não como escravatura, mas como expressão do dom livre de
si. E isto é muito importante: fez-se voluntariamente serva – foi vendida como
escrava – e em seguida escolheu livremente fazer-se serva, carregar sobre os
seus ombros os fardos dos outros!” (Catequese 22. A paixão pela
evangelização).
Por fim, o
apelo a beber o cálice e a dar a vida pode convidar os discípulos missionários
a dar a vida por Cristo. São alimentados no banquete da Eucaristia e chamados a
conformar a sua vida a este mistério de amor nupcial. Porque Jesus deu a Sua
vida por nós, eles podem dar a sua vida por amor a Ele e aos seus entes
queridos. Eis como explica o Papa Francisco, inspirado no martírio de São
Lourenço: “Santo Agostinho realça frequentemente esta dinâmica de gratidão e de
reciprocidade gratuita do dom. Eis, por exemplo, o que ele pregava por ocasião
da festa de São Lourenço: «São Lourenço era diácono da Igreja de Roma. Ali era
ministro do sangue de Cristo e onde, pelo nome de Cristo, derramou o seu
sangue. O beato apóstolo João expôs claramente o mistério da Ceia do Senhor,
dizendo: “Cristo deu a Sua vida por nós. Também nós devemos dar a nossa vida
pelos irmãos” (1 Jo 3, 16). Irmãos, Lourenço compreendeu tudo isto.
Compreendeu-o e pô-lo em prática. E retribuiu verdadeiramente o que tinha
recebido naquela mesa. Amou Cristo na sua vida, imitou-o na sua morte» (Disc.
304, 14; PL 38, 1395-1397). Era assim que Santo Agostinho explicava o dinamismo
espiritual que animava os mártires” (Catequese 11. A paixão pela
evangelização).
O Concílio
Vaticano II recorda-nos que “o martírio, pelo qual o discípulo se torna
semelhante ao mestre, que livremente aceitou a morte para salvação do mundo, e
a Ele se conforma no derramamento do sangue, é considerado pela Igreja como um
dom insigne e prova suprema de amor” (Const. Lumen gentium, 42). O Papa
Francisco explica: “À imitação de Jesus e com a Sua graça, os mártires
transformam a violência de quem rejeita o anúncio, em ocasião suprema de amor,
que vai até ao perdão dos próprios algozes. Isto é interessante: os mártires
perdoam sempre os algozes. Estêvão, o primeiro mártir, morreu rezando: “Senhor,
perdoa-lhes, não sabem o que fazem!”. Os mártires rezam pelos algozes.
“Embora só
alguns sejam chamados ao martírio «todos, porém, devem estar dispostos a
confessar a Cristo diante dos homens e a segui-l’O no caminho da cruz no meio
das perseguições, que nunca faltarão à Igreja» (ibid., 42). Mas, a
perseguição é algo daquela época? Não, não: de hoje. Hoje há perseguições de
cristãos no mundo, muitas, tantas! Há mais mártires hoje do que nos primeiros
tempos. Os mártires mostram-nos que cada cristão é chamado ao testemunho da
vida, até quando não chega à efusão do sangue, fazendo de si mesmo um dom a
Deus e aos irmãos, à imitação de Jesus” (Catequese 11).
Neste Dia
Mundial das Missões, respondamos ao apelo a todos os baptizados para servir e
dar a vida. Convidamos todos a descobrir a riqueza da nossa espiritualidade
cristã e do nosso banquete eucarístico, onde Jesus dá a sua vida por nós e nos
dá a graça de fazer o mesmo pelos outros. Rezemos pela grande missão universal
dos baptizados e apoiemo-la concretamente através da nossa oferta, inteiramente
dedicada à Propagação da Fé, a Obra pontifícia que ajuda as jovens Igrejas.
Permaneçamos firmes na afirmação da nossa fé, que tem como modelo o Servo e
Sumo Sacerdote Jesus, que hoje dá de novo a Sua vida no banquete da Sua
Eucaristia. Convidemos todos para este banquete do verdadeiro alimento, o pão
da vida eterna!
Por fim,
mesmo que sejamos tentados a ficar no banquete, a ficar com Jesus, há sempre o
apelo à missão. Ide, diz Cristo. “Mas de igual modo não há estar sem ir.
Na realidade, seguir Cristo não é algo intimista: sem anúncio, sem serviço, sem
missão, a relação com Jesus não cresce. Observemos que no Evangelho o Senhor
envia os discípulos antes de ter completado a Sua preparação: pouco depois de
os ter chamado, já os envia! Isto significa que a experiência da missão faz
parte da formação cristã. Então, recordemos estes dois momentos constitutivos
para cada discípulo: estar com Jesus e ir, envidados por Jesus” (Catequese 4).
Porquê
convidar, porquê anunciar este banquete a todos? O Papa Francisco continua: “Porquê
anunciar. A motivação está em cinco palavras de Jesus, que nos fará bem
recordar:
«Recebestes
de graça, dai de graça!» (v. 8). São cinco palavras. Mas porquê anunciar?
Porque
recebi de
graça e devo dar de graça. O anúncio não começa por nós, mas pela beleza do que
recebemos de
graça, sem mérito: encontrar Jesus, conhecê-l’O, descobrir que somos amados e
salvos. É um
dom tão grande que não podemos guardá-lo para nós, sentimos a necessidade de o
irradiar;
mas com o mesmo estilo, ou seja, na gratuidade. Em síntese: temos um dom, por
isso
somos
chamados a fazer-nos dom; recebemos um dom e a nossa vocação consiste em nos
tornarmos dom para os outros; em nós há a alegria de ser filhos de Deus, e ela
deve ser partilhada com os irmãos e irmãs que ainda não o conhecem! Esta é a
razão do anúncio. Ir e anunciar a alegria daquilo que recebemos” (Catequese 4. A
paixão pela evangelização).
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