Outubro Missionário - Dia 18

 Sexta-feira, 18 de Outubro de 2024

XXVIII Semana do Tempo Comum – Ano B

Festa de São Lucas, Evangelista

2 Tm 4, 10-17b; Sal 144; Lc 10, 1-9

Celebramos hoje a festa de São Lucas, evangelista, a quem é atribuído o Evangelho que nos tem acompanhado quase constantemente nestes últimos dias. É importante recordar que, nos dois livros dedicados a Teófilo (theo-philos: amigo de Deus), Lucas articula as duas partes da mesma obra sobre a Ascensão de Jesus (Lc 24, 50-53; Heb 1, 6-11). A ascensão significa simultaneamente o culminar do reinado de Jesus e o envio missionário dos discípulos “até aos confins da terra”. A redacção do Evangelho (e dos Actos dos Apóstolos) é uma forma concreta de missão.

Com base no texto evangélico de hoje, destacaremos a série de sete imperativos de um missionário (na verdade, teríamos dez se acrescentássemos os três que aparecem nos versículos 10-12, que não leremos hoje). Deste modo, compreenderemos um pouco melhor a figura do missionário e compreender-nos-emos também a nós próprios como discípulos missionários. Vejamos:

“Pedi” (Lc 10, 2). O missionário é, antes de mais, uma pessoa que reza. Como acontece desde o Pentecostes, e como é confirmado em Actos 13, 1-3, a missão começa com uma comunidade que reza e se reveste do Espírito para enviar aqueles que o Senhor escolhe de entre eles. No entanto, os 72 aperceberam-se de que, embora aparentemente fossem muitos, na realidade não eram suficientes: “os trabalhadores são poucos”.

 “Ide” (Lc 10, 3). A atitude é a de estar sempre “em caminho”. O missionário tem consciência de entrar num mundo cheio de perigos, que a sua vida estará sempre ameaçada: “como cordeiros para o meio de lobos”. O missionário não subjuga os outros, é um homem de paz. Como recorda o Papa Francisco na sua Mensagem para o Dia Mundial das Missões deste ano de 2024: “Ao proclamar ao mundo «a beleza do amor salvífico de Deus manifestado em Jesus Cristo morto e ressuscitado» (Exortação Apostólica. Evangelii gaudium, 36), os discípulos-missionários fazem-no com alegria, magnanimidade, benevolência, que são fruto do Espírito Santo neles (cf. Gal 5, 22); sem imposição, coerção nem proselitismo; mas sempre com proximidade, compaixão e ternura, que reflectem o modo de ser e agir de Deus.”

“Não leveis...” (Lc 10, 4a). O missionário viaja desapegado de tudo. Há quatro coisas que são necessárias para uma viagem e ele desprende-se delas: dinheiro, uma mochila para o lanche e uma muda de roupa, e sandálias para as longas caminhadas em terrenos pedregosos. Isto não significa que ele fique “sem rede”, a sua segurança reside na sua fé em Deus que não o abandona e que, como Pai, provê às suas necessidades. Isto é tão real que, quando Jesus lhes pergunta: “Quando vos enviei sem saca, sem bolsa e sem sandálias, faltou-vos alguma coisa?». Eles disseram: «Nada»” (Lc 22, 35).

Uma certeza que também foi sentida por Paulo e que é recordada na primeira leitura de hoje: “O Senhor esteve a meu lado e deu-me força, para que, por meu intermédio, a mensagem do Evangelho fosse plenamente proclamada e todos os pagãos a ouvissem” (2 Tm 4, 10).

“Não vos demoreis a saudar alguém pelo caminho” (Lc 10, 4b), indica que o missionário viaja com liberdade, nada e ninguém o deve distrair de responder à urgência da missão.

“Dizei” (Lc 10, 5). O anúncio do Evangelho começa com a saudação da paz: “Shalom leká” (cf. Jo 6, 23; Lc 24, 36). Não se trata de um formalismo vazio, mas de um dom que pode ser aceite ou rejeitado. Este dom, que os “amantes da paz” sabem acolher, está ligado à vinda da salvação. Esta paz é o dom pascal de Cristo (Lc 24, 36; ver também 2, 14.29; 19, 42; Act 10, 36). Um dom é recebido só por aqueles que estão abertos a ele.

“O anúncio do Evangelho começa sempre com a saudação de paz; e a paz coroa e cimenta em cada momento as relações entre os discípulos. A paz é possível, porque o Senhor venceu o mundo e a sua permanente conflitualidade, «pacificando pelo sangue da Sua cruz (Col 1, 20)” (EG, 229).

“Ficai” (Lc 10, 7). O missionário não vai em busca de conforto, por isso é aconselhado a não andar de casa em casa, mas a ficar (Lc 10, 7) e a comer e a beber do que há (Lc 10, 8b).

“Ficar” significa entrar profundamente na realidade e no tecido relacional da casa que se está a evangelizar, para que o Reino de Deus possa penetrar a partir de dentro (como fez Jesus com os discípulos de Emaús: “Fica connosco... entrou para permanecer com eles”, Lc 24, 29; ou como fez Paulo em casa de Lídia, Act 16, 15). O missionário deve saber aceitar a hospitalidade, que para ele é sinal do amor de um Deus que dá. É preciso não só saber dar, mas também saber receber.

“Curai” (Lc 10, 9a). A acção precede a palavra. O missionário exprime-se primeiro com actos e depois com palavras que ajudam a compreender o que aconteceu. No Evangelho de Lucas há muitas curas que tornam visível o Reino (cf. 11, 20). Nelas podia ver-se a vinda do Messias. Agora Jesus confia esta tarefa aos Seus missionários.

“Dizei” (Lc 10, 9b). Tal como Jesus itinerante anuncia por toda a parte “a boa nova do Reino de Deus” (Lc 4, 43), o missionário é arauto e testemunha da entrada definitiva de Deus na história. Também a missão silenciosa das obras tem necessidade da palavra, como dizia João Paulo II: “Não pode haver verdadeira evangelização sem o anúncio explícito de Jesus como Senhor. O Concílio Vaticano II e o Magistério posterior, refutando certa confusão sobre a verdadeira natureza da missão da Igreja, tem repetidamente sublinhado a primazia do anúncio de Jesus Cristo em qualquer trabalho de evangelização” (Ecclesia in Asia, 19).

Recordemos que o Evangelho é o maior dom que nós, cristãos, temos. Por isso, devemos partilhá-lo com todos os homens e mulheres que procuram uma razão para viver.

Bendigamos o Senhor através do evangelista Lucas.

“Esta é a nova aliança que Deus fez com Lucas (cf. Jer 31, 31).

Pôs no seu coração a Palavra viva e eterna (Jer 31, 33).

Separou-o dos gregos para que ele fosse e desse fruto (cf. Jo 15, 16).

Lucas, o médico predilecto (cf. Col 4, 14),

o irmão louvado por todas as Igrejas

pelo seu anúncio do Evangelho (cf. 2 Cor 8, 18).

Judeu ou grego, já não há distinção,

porque a Escritura diz: “Quem acredita n'Ele não será envergonhado”.

Ele próprio é o Senhor de todos, rico para todos os que O invocam.

Ele veio procurar e salvar o que estava perdido (cf. Lc 19, 10).

Virão do Oriente e do Ocidente, do Norte e do Sul,

para participarem no banquete do Reino dos Céus (cf. Lc 13, 29)”.

 

(Preparado pelo Mosteiro Apostólico de Piedra Blanca)

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