Domingo,
13 de Outubro de 2024
XXVIII
Domingo do Tempo Comum – Ano B
Sb 7, 7-11; Sal 89; Heb 4,1 2-13;
Mc 10, 17-30
Neste Mês
Missionário, o apelo de Cristo a segui-l’O, a deixar tudo pelo Evangelho e pela
vida eterna, chama-nos. Ele quer pessoas pobres de coração, que procurem apenas
as riquezas da Sua Palavra para viver dela, que rezem para receber e irradiar a
Sua sabedoria. Ser discípulo-missionário leva-nos a renunciar às riquezas deste
mundo e a escolher a única riqueza que pode satisfazer o nosso coração: a
riqueza do amor do Senhor, como pede o Salmo de hoje: “Enchei-nos da Vossa
misericórdia: será ela a nossa alegria” (Salmo 89).
O Papa
Francisco trouxe o exemplo de Madeleine Delbrêl, uma buscadora de Deus que
viveu no agnosticismo até aos vinte anos. Depois partiu em busca de Deus com
uma sede profunda e um “vazio que nela gritava a sua angústia”. O seu caminho
de fé leva-a a escolher uma vida totalmente dedicada a Deus, no coração da
Igreja e do mundo. Deslumbrada com o seu encontro com o Senhor, escreveu: “Uma
vez que conhecemos a palavra de Deus, não temos o direito de não a receber;
quando a recebemos, não temos o direito de não a deixar encarnar-se em nós;
quando se encarna em nós, não temos o direito de a conservar para nós: a partir
daquele momento, pertencemos àqueles que a esperam” (La santità della gente
comune, Milão 2020, 71)” (Catequese 25. A paixão pela evangelização).
Não é isto que testemunha a Carta aos Hebreus deste Domingo? A Palavra
de Deus é viva e eficaz (cf. Heb 4, 12) e encarna-se em nós para que a
possamos testemunhar aos outros.
Outro
discípulo-missionário que deixou tudo para seguir Cristo e testemunhar o Seu
Evangelho é São Carlos de Foucauld. “Depois de ter vivido uma juventude longe
de Deus, sem acreditar em nada, a não ser na busca desordenada do prazer, ele
confia-o a um amigo não crente, a quem, depois de se ter convertido aceitando a
graça do perdão de Deus na Confissão, revela a razão da sua vida. Escreve:
«Perdi o meu coração por Jesus de Nazaré». Assim, o Irmão Carlos recorda-nos
que o primeiro passo para evangelizar é ter Jesus dentro do coração, é “perder
a cabeça” por Ele. Se isso não acontecer, dificilmente conseguiremos mostrá-l’O
com a vida. Ao contrário, corremos o risco de falar de nós próprios, do nosso
grupo de pertença, de uma moral ou, pior ainda, de um conjunto de regras, mas
não de Jesus, do Seu amor, da Sua misericórdia” (Catequese 23. A paixão pela
evangelização).
O
discípulo-missionário encontrou o tesouro de que Jesus fala no Evangelho de
hoje. Continuando a sua catequese sobre Charles de Foucauld, o Papa Francisco fala
deste tesouro: “À medida que cada um de nós conhece mais Jesus, nasce o desejo
de O dar a conhecer, de partilhar este tesouro. Comentando a narração da visita
de Nossa Senhora a Santa Isabel, leva-o a dizer: «Ofereci-me ao mundo...
levai-me ao mundo!». Sim, mas como fazê-lo? Como Maria, no mistério da
Visitação: «Em silêncio, com o exemplo, com a vida». Com a vida, porque «toda a
nossa existência – escreve o Irmão Carlos – deve gritar o Evangelho». E muitas
vezes a nossa existência grita mundanidade, grita tantas coisas estúpidas,
coisas estranhas, e ele diz: “Não, toda a nossa existência deve gritar o
Evangelho.”
“Então, ele
decide estabelecer-se em regiões longínquas para gritar o Evangelho no
silêncio, vivendo no espírito de Nazaré, em pobreza e escondimento. Vai para o
deserto do Sahara, entre os não-cristãos, e chega lá como amigo e irmão,
levando a mansidão de Jesus-Eucaristia” (Catequese 23).
A promessa
de Jesus a quem deixar tudo por amor a Ele e ao Evangelho é entrar na vida
eterna, no Reino! Isto é impossível para o homem, mas possível para Deus! Neste
Mês Missionário, celebramos a contínua exortação de Deus a todos para que O
sigam e se entreguem pelo Evangelho e pelo Reino. Por fim, deixamos que Deus
torne possível o nosso desejo de abraçar a missão com todo o coração. Este
apelo reflecte-se também no tema do próximo Domingo, Dia Mundial das Missões: Ide
e convidai a todos para o banquete (cf. Mt 22, 9).
No “Vem e
segue-Me”, como no “Ide e convidai a todos”, há um apelo a ir. Voltemos ao
testemunho de Madeleine Delbrêl: “Para estar contigo no Teu caminho, é preciso
ir, até quando a nossa preguiça nos suplica que fiquemos. Escolheste-nos para
estar num estranho equilíbrio, um equilíbrio que só pode ser estabelecido e
mantido em movimento, só num impulso. Um pouco como uma bicicleta, que não consegue
ficar de pé sem estar em movimento [...] Só podemos estar de pé avançando,
movendo-nos, num ímpeto de caridade». É aquilo a que ela chama a
“espiritualidade da bicicleta” (Umorismo nell’Amore. Meditazioni e poesie,
Milão 2011, 56). Só a caminho, correndo, vivemos no equilíbrio da fé, que é um
desequilíbrio, mas é assim: como a bicicleta. Se pararmos, ela não fica em pé”
(Catequese 25: A paixão pela evangelização).
No Evangelho,
o rico que procurou a vida eterna não encontrou a alegria, mas a tristeza do
materialismo. Para aqueles que, pelo contrário, encontraram a verdadeira
alegria ao dar tudo e escolher Jesus, o Papa Francisco recorda-nos que hoje é
um momento oportuno para anunciar Jesus e a alegria do Evangelho: “Assim, como
os dois de Emaús, volta-se à vida de todos os dias com o ímpeto de quem
encontrou um tesouro: aqueles dois eram jubilosos, porque tinham encontrado
Jesus, e isto mudou as suas vidas. E descobre-se que a humanidade está repleta
de irmãos e irmãs que aguardam uma palavra de esperança. O Evangelho é esperado
até hoje: o homem de hoje é como o homem de todos os tempos, precisa dele,
inclusive a civilização da incredulidade programada e da secularidade
institucionalizada; aliás, sobretudo a sociedade que deixa vazios os espaços do
sentido religioso, precisa de Jesus. Este é o momento favorável para o anúncio
de Jesus. Por isso, gostaria de dizer novamente a todos: «A alegria do
Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus.
Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do
vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, a alegria nasce e renasce sem
cessar» (ibid., 1) (Catequese 26).
Por fim,
juntemo-nos ao Papa Francisco para agradecer, neste Mês Missionário, a todos
aqueles que responderam ao apelo de deixar tudo pelo anúncio do Evangelho: “Aproveito
o momento para agradecer aos missionários e missionárias que, respondendo ao
chamamento de Cristo, deixaram tudo e partiram para longe da sua pátria a fim
de levar a Boa Nova aonde o povo ainda não a recebera ou só recentemente é que
a conheceu. Irmãs e irmãos muito amados, a vossa generosa dedicação é expressão
tangível do compromisso da missão ad gentes que Jesus confiou aos Seus
discípulos: «Ide e fazei discípulos de todos os povos» (Mt 28, 19). Por
isso continuamos a rezar e a agradecer a Deus pelas novas e numerosas vocações
missionárias para esta obra de evangelização até aos confins da terra” (Mensagem
para o Dia Mundial das Missões 2024).
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