Outubro Missionário - Dia 16

 


Quarta-feira, 16 de Outubro de 2024

XXVIII Semana do Tempo Comum – Ano B

Gl 5, 18-25; Sal 1; Lc 11, 42-46

 

No Evangelho, Jesus dirige-Se aos chefes, aos animadores da experiência religiosa de Israel. O Seu modo de falar é profético e, para isso, utiliza as “ameaças” que são oráculos de desventura e, portanto, indicam comportamentos que conduzem à ruína. São avisos, tal como Paulo indica aos Gálatas, na primeira leitura, as “obras da carne” que os afastam do Reino de Deus.

 

Estes vícios fazem perder a vida do Espírito e contrastam com os frutos esperados de uma vida espiritual, a saber, “a caridade, a alegria, a paz, a paciência, a benignidade, a bondade, a

fidelidade, a mansidão e a temperança”. Vejamos agora cada um dos comportamentos e atitudes que Jesus quer corrigir para que sejam reorientados em harmonia com o Reino de Deus: “Ai de vós, fariseus, porque pagais o dízimo da hortelã, da arruda e de todas as hortaliças, mas desprezais a justiça e o amor de Deus!” (Lc 11, 42a). Jesus não está a atacar a lei em si (cf. Dt 12, 22; Lv 27, 30), mas sim o modo e a razão pela qual o dízimo é exigido. Os fariseus foram demasiado zelosos nas suas exigências e caíram num “pormenor” que os faz perder o verdadeiro sentido do que estão a fazer. Isto leva-os a esquecer o que é importante: o amor de Deus e a justiça para com os seus irmãos.

 

A este propósito, o Papa Francisco recordou-nos a correcta gradualidade no anúncio do Evangelho: “Uma pastoral em chave missionária não está obcecada com a transmissão desarticulada de uma imensidade de doutrinas que se tentam impor à força de insistir. Quando se assume um objectivo pastoral e um estilo missionário, que chegue realmente a todos sem excepções nem exclusões, o anúncio concentra-se no essencial, no que é mais belo, mais importante, mais atraente e, ao mesmo tempo, mais necessário. A proposta acaba simplificada, sem com isso perder profundidade e verdade, e assim se torna mais convincente e radiosa” (EG, 35).

 

“Ai de vós, fariseus, porque gostais do primeiro lugar nas sinagogas e das saudações na praça pública!” (Lc 11, 43). Ser líder religioso confere um certo prestígio e pode-se cair no grave perigo de procurar honras ou privilégios. Neste caso, pensa-se em si mesmo, na sua própria imagem, na tentativa de ser visto pelos outros como puros e justos, como pessoas boas. Esta atitude pode fazer-nos perder o rumo da missão e comprometer seriamente o anúncio do Evangelho.

 

Mais uma vez, o Papa Francisco nos ilumina: “A centralidade do querigma requer certas características do anúncio que hoje são necessárias em toda a parte: que exprima o amor salvífico de Deus como prévio à obrigação moral e religiosa, que não imponha a verdade, mas faça apelo à liberdade, que seja pautado pela alegria, o estímulo, a vitalidade e uma integralidade harmoniosa que não reduza a pregação a poucas doutrinas, por vezes mais filosóficas que evangélicas. Isto exige do evangelizador certas atitudes que ajudam a acolher melhor o anúncio: proximidade, abertura ao diálogo, paciência, acolhimento cordial que não condena” (EG, 165).

 

“Ai de vós, porque sois como sepulcros disfarçados, sobre os quais passamos sem o saber!” (Lc 11, 44). Esta é provavelmente uma das advertências mais importantes. Faz eco da exigência de pureza dos túmulos de Números 19, 16, onde tocar num túmulo era motivo de impureza, pelo que tinham de ser caiados de modo a se tornarem mais visíveis. A interpretação de Lucas é inédita: os sepulcros são os líderes religiosos que se destacam (“branqueados” é uma referência à visibilidade mencionada no segundo “ai!”), e as pessoas que os rodeiam constantemente para ouvir os seus ensinamentos são elas que se tornam impuras, porque, em contacto com eles, são contaminadas pelos seus vícios sem se aperceberem. Um evangelista que não é fiel ao Evangelho pode distorcer a mensagem e desviar os outros.

 

“Ai de vós também, doutores da lei, porque impondes aos homens fardos insuportáveis e vós próprios nem com um só dedo tocais nesses fardos!” (Lc 11, 46). Os doutores da Lei, a quem se dirige esta última “ameaça”, eram conhecidos pela sua interpretação rigorosa da Lei, à qual acrescentavam certas obrigações sem justificação. Mas, por seu lado, conseguiam astutamente não fazer o que mandavam fazer. Este “aviso” chama a atenção para a necessidade de coerência e de empenhamento pessoal naquilo que pregamos.

 

Tomemos hoje a peito a admoestação de S. Paulo: “Se vivemos pelo Espírito, caminhemos também segundo o Espírito.”

Comentários