Para um rosto missionário da Igreja em Portugal II

O Primado da missão do amor


5. É o amor fontal de Deus Pai, expresso na missão do Filho e do Espírito Santo, que dá à Igreja e a cada um dos baptizados-confirmados a graça da sua identidade missionária[5]. Porque «Deus é amor» (1 Jo 4,8) e nos ama com amor perfeito (1 Ts 1,4; cf. Cl 3,12; 1 Jo 4,12) e nos ama «primeiro» (1 Jo 4,19), e porque o amor é a ponte que faz passar da morte para a vida – «nós sabemos que passamos da morte para a vida porque amamos os irmãos; quem não ama, permanece na morte» (1 Jo 3,14) –, então «a causa missionária deve ser, para cada cristão e para toda a Igreja, a primeira de todas as causas», pois «não podemos ficar indiferentes ao pensar nos milhões de irmãos e de irmãs que ignoram ainda o amor de Deus»[6].

6. O ícone missionário por excelência é a figura do Bom Pastor, transparência do amor de Deus, que não abandona ninguém, mas vai à procura de todos e de cada um com paixão. O Bom Pastor cuida das ovelhas que estão perto, mas dedica-se igualmente a procurar, encontrar e chamar as que estão longe ou andam perdidas. Tendo presente esta imagem do Bom Pastor, não podemos contentar-nos com ficar à espera e cuidar dos que vêm ter connosco. Deus tomou a iniciativa da nossa salvação, amando-nos primeiro. Portanto, imitando o Bom Pastor, que foi à procura da ovelha perdida, uma comunidade evangelizadora sente-se continuamente obrigada a expandir a sua presença missionária em todo o território confiado ao seu cuidado pastoral e também na missão orientada para outros povos. É este «estilo do Senhor Jesus», Bom Pastor, que nos ama descendo ao nosso nível, dedicando a cada um a atenção toda (Mt 18,5.6.10.14; 25,40.45), sem qualquer preocupação estatística, e dando prioridade à ovelha perdida (Mt 9,36; 10,6; 15,24; 18,12; Lc 15,4), que deve impregnar e moldar o rosto da Igreja, da paróquia e de cada cristão.

7. Neste sentido, precisa, com singular afecto, João Paulo II que a paróquia é «a própria Igreja que vive no meio das casas dos seus filhos e das suas filhas»[7], e que a sua vocação «é a de ser a casa de família, fraterna e acolhedora»[8], e grava esta afirmação emocionada e mobilizadora: «O homem é amado por Deus! Este é o mais simples e o mais comovente anúncio de que a Igreja é devedora ao homem»[9]. Verdadeiramente, no coração de quem aderiu ao Senhor Jesus Cristo, não pode deixar de nascer e de se desenvolver o desejo de condividir o dom recebido, de amar como fomos amados.

8. Nascerá assim uma Igreja bela, verdadeira casa de família, sensível, fraterna, acolhedora e sempre apressadamente a caminho (Lc 1,39), mãe «comovida» com as dores e alegrias dos seus filhos e filhas, cada vez menos em casa, cada vez mais fora de casa, a quem deve fazer chegar e saber envolver na mais simples e comovente notícia do amor de Deus. Ao mesmo tempo, é necessário que todos se sintam chamados e estimulados a participar, com harmonia, na missão da Igreja, «casa e escola de comunhão»[10], tendo sempre presente que «a construção da comunidade eclesial é a chave da missão»[11]. Neste sentido, cabe aos Pastores velar pela harmonia dinâmica desta construção, acolhendo e orientando a colaboração de todos, pois «os Pastores não são apenas pessoas que ocupam um cargo», mas «são responsáveis pela abertura da Igreja à acção do Espírito Santo»[12], que continua a suscitar e a animar novos movimentos, novas formas eclesiais, novos métodos e novos rumos, nova primavera no «inverno da Igreja», quantas vezes surpreendendo e pondo em causa a excessiva confiança que pusemos nas nossas estruturas e programações, distribuição de poderes e funções[13].


[5] CONCÍLIO VATICANO II, Decreto Ad Gentes (7 de Dezembro de 1965), 2.

[6] JOÃO PAULO II, Carta Apostólica Redemptoris Missio (7 de Dezembro de 1990), 86.

[7] JOÃO PAULO II, Exortação Apostólica pós-sinodal Christifideles Laici (30 de Dezembro de 1988), 26.

[8] JOÃO PAULO II, Exortação Apostólica Catechesi tradendae (16 de Outubro de 1979), 67.

[9] JOÃO PAULO II, Christifideles Laici, 34.

[10] JOÃO PAULO II, Carta Apostólica Novo Millennio Ineunte (6 de Janeiro de 2001), 43.

[11] BENTO XVI, A construção da comunidade eclesial é a chave da missão, Mensagem para o 84.º Dia Missionário Mundial (24 de Outubro de 2010). A Mensagem traz a data de 6 de Fevereiro de 2010.

[12] BENTO XVI, Discurso no Encontro com os Bispos de Portugal, Fátima, 13 de Maio de 2010.

[13] BENTO XVI, Discurso no Encontro com os Bispos de Portugal, Fátima, 13 de Maio de 2010; BENTO XVI, Homilia da Santa Missa, Praça do Terreiro do Paço, Lisboa, 11 de Maio de 2010.


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