Domingo, 12 de Outubro de 2025
XXVIII Domingo do Tempo Comum – Ano C
2 Rs 5, 14-17; Sl 97; 2
Tm 2, 8-13; Lc 17, 11-19
O Evangelho deste Domingo é a continuação do texto
lucano do Domingo passado e começa com um breve lembrete sobre a viagem para
Jerusalém (v. 11), informando que Jesus Se encontra entre a Samaria e a
Galileia, no terceiro e último trecho da “grande viagem”. Jesus está a passar
por um território da Samaria, considerado impuro pelos judeus, e encontra
pessoas impuras, os leprosos. Ele continua a Sua missão de anunciar o reino de
Deus. “Ele «andou de lugar em lugar, fazendo o bem e curando todos os que eram
oprimidos» pelo mal e pelo Maligno (cf. Act 10, 38), restituindo a
esperança em Deus aos necessitados e ao povo” (Mensagem para o Dia Mundial
das Missões 2025).
Segundo a narração de Lucas, no primeiro momento temos
o relato típico de um milagre, com a aproximação e súplica dos leprosos, a
rápida atenção de Jesus com as palavras de envio e, em seguida, a cura à
distância, quando o grupo já caminhava em retirada. Contudo, o relato continua.
A atenção não está colocada na cura realizada, mas, sobretudo, na atitude dos
que foram curados. Evidencia-se o contraste entre a indiferença de nove e o
reconhecimento de um deles, identificado como samaritano, um estrangeiro. Um
detalhe curioso chama a atenção: é a primeira vez no Evangelho de Lucas
que alguém interpela Jesus pelo nome (11, 13). O nome de Jesus é colocado como
apóstrofe e já indica a mensagem central do relato, Deus que salva. Pela oração
ao nome de Jesus somos associados a Ele, ao Seu próprio caminho, no qual somos
purificados. O leproso experimenta a misericórdia de Deus na acção compassiva
de Jesus que cura; de facto, Jesus é Deus que salva.
Esta reflexão terá surgido numa comunidade cristã de
origem pagã (gregos), para tornar explícito a atenção que os cristãos dão à
missão universal. Não é, porém, um caso isolado de Lucas, que também dá atenção
aos samaritanos no relato daquele bondoso (Lc 10, 29-37), que cuida,
socorre e assegura a recuperação de um homem que ele encontra caído na beira da
estrada. O gesto de gratidão do estrangeiro é paradigma de conversão e
salvação. Ao contrário do samaritano, os outros nove curados teriam sido
beneficiados pelo milagre, mas não teriam conhecido a graça da salvação. Eles
representam os judeus que se acreditam curados porque cumpriram a lei. De facto,
eles observavam a lei, permanecendo fora do povoado (vv. 12-13) e vão
apresentar-se ao sacerdote, como é prescrito (v. 14) e, por isso, acham-se
merecedores da cura. Porém, é a demonstração de fé, no louvor eucarístico aos
pés de Jesus, que assegura ao samaritano a salvação. Como recorda o Papa
Francisco: “Cristo é o cumprimento da salvação para todos, especialmente para
aqueles cuja única esperança é Deus” (Mensagem para o Dia Mundial das
Missões 2025).
O caminho é o espaço simbólico da cura, é o símbolo da
natureza missionária da acção de Jesus. O caminho representa a distância entre
Jesus e os sacerdotes, ou seja, a vontade divina e a ritualista-tradicionalista.
O grupo de curados encontra-se nesse itinerário que favorece diferentes direcções,
mas são poucos os que se orientam para o Caminho da Vida e da Verdade. Jesus,
então, aproveita da acção de graças do samaritano para aprofundar a reflexão,
pois a salvação vai além da cura física.
A acção de Jesus é respaldada pelo testemunho da
profecia de Israel, como nos lembra a primeira leitura da liturgia dominical. O
trecho do Segundo Livro dos Reis fala do ciclo do profeta Eliseu. O
destaque é para Naamã, um sírio, chefe do exército, que tinha uma escrava
judia, que teria sido feita prisioneira durante uma das incursões em Israel.
Mas, ele era leproso. A sua escrava falou-lhe de Eliseu, o homem de Deus, e ele
partiu para Israel. Contudo, ao chegar à porta de Eliseu, o profeta não faz
nada de espectacular, pede apenas que o sírio se banhe sete vezes no rio
Jordão, ou seja, sugere a cura de Naamã à distância. Isso provoca relutância no
sírio que se recusa a agir conforme a orientação do profeta; ele esperava que
agisse prodigiosamente, com grandes rituais e gestos espectaculares. Pelo
contrário, a acção de Deus é simples: pela boca do profeta, a Sua palavra é
discreta e eficaz. Como no relato evangélico, que contrasta as poucas palavras
de Jesus com os rituais das prescrições da lei. Tudo é muito simples na cura de
Naamã: o conselho da escrava, o rio Jordão, o ritual simples, por fim, também o
seu agradecimento, pois pensava dar presentes ao profeta, mas ele recusou, e o
sírio decidiu, simplesmente, levar uma porção de terra de Israel no retorno
para casa, para lá adorar o Deus de Israel.
O texto da segunda carta de Paulo a Timóteo também
destaca o poder da palavra de Deus, que cura à distância. O apóstolo recorda a
sua prisão, lembrando que a palavra de Deus não pode ser aprisionada; ela é
livre, forte, libertadora. Os sofrimentos e angústias da prisão são confortados
pelo Evangelho, palavra de conforto e esperança para os sofrimentos do mundo.
Anunciar o Evangelho é reconhecimento da presença de Cristo. Ele ainda hoje Se
inclina sobre cada pobre, aflito, desesperado e oprimido pelo mal, para
derramar “sobre as suas feridas o óleo da consolação e o vinho da esperança”
(Prefácio, Cristo, Bom Samaritano).
Neste Domingo,
toda a Igreja é convidada a rezar unida, confiando na palavra de Jesus e
conduzida pelo Espírito de Deus, para que evite todo tipo de preconceito,
rejeite qualquer forma de descriminação e, assim, possa ser sinal da presença
salvífica de Deus em todos os espaços, como arauta da esperança que cura diante
do grito suplicante do mundo doente; para que recorde sempre que é Deus quem
cura as nossas lepras, perdoa os nossos pecados, nos renova, nos purifica, e a
Sua acção salvadora não conhece barreiras ou distâncias; para que tenha gestos
de gratidão, característica dos que foram tocados pela graça de Deus; e para
que se ponha no caminho do discipulado, fazendo sempre a passagem imediata para
o seguimento de Jesus, ou seja, do benefício da cura para a experiência de fé
autêntica.
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