PORTUGAL TEM DE INVESTIR NA FORMAÇÃO MISSIONÁRIA

A Agência Ecclesia fez a entrevista que se encontra no seu site e que nós também aqui deixamos para partilhar.
A análise ao compromisso missionário da Igreja Católica em Portugal dá o mote a esta entrevista ao P. Manuel Durães Barbosa, Director das Obras Missionárias Pontifícias no nosso país, que deixa vários alertas às comunidades e aos responsáveis pela sua formação e dinamização.

Agência ECCLESIA (AE) – Outubro é conhecido como o mês missionário. Não há o perigo de nos lembrarmos das missões somente neste mês?

Pe. Durães Barbosa (DB) - A tentação é essa, mas acreditamos que com os diversos elementos fornecidos pelas Obras Missionárias Pontifícias (OMP) e, ultimamente, com o Congresso Missionário a dimensão missionária não se resuma só a este mês. Queremos que seja todo o ano. No entanto, reconhecemos que as forças se concentram no mês de Outubro.

AE – O que fazer para que a dinamização missionária seja uma realidade ao longo dos 12 meses do ano?

DB - Na «Infância missionária» fornecemos elementos para que as crianças vivenciem este espírito. Durante a preparação para o Natal e, depois, na Epifania as crianças vibram de forma muito intensa esta dimensão. Estamos a pensar preparar um guião para a Quaresma, onde será recordado o aspecto missionário da Igreja. Com as conclusões do Congresso Missionário, espero que surjam novas iniciativas e novidades na vivência do Espírito Missionário da Igreja em Portugal.

AE – É a passagem do papel para a práxis pastoral?

DB - Durante o Congresso foi pedido ao Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. Jorge Ortiga, e ao Presidente da Comissão Episcopal das Missões, D. António Couto, para não deixarem cair em «saco roto» toda esta vivência, força e dinâmica. Com cerca de 1000 participantes, o Congresso foi uma experiência rica. Espero que a Comissão Episcopal das Missões prepare um documento, «estilo» Carta Pastoral, a aprovar pela CEP, que dê orientações nesta área. É fundamental dinamizar as conclusões do congresso na Igreja em Portugal.

AE – Qual é o ponto prioritário e a concretizar urgentemente?

DB - Criar círculos missionários nas dioceses e espalhá-los depois às paróquias. É necessário que exista um secretariado diocesano que dinamize e irradie toda esta força para as paróquias. Em cada diocese há um responsável pela dinamização missionária, mas é essencial que haja uma equipa que envolva toda a pastoral da diocese. Se tal não acontecer, as coisas não funcionam.

AE – Então pretende estender a dinamização missionária até às paróquias. Criar ramificações do serviço diocesano até às comunidades...

DB - Sim, mas não queremos criar uma casa pelo telhado. Antes de mais, desejamos um secretariado dinâmico que envolva toda a pastoral em cada diocese. Só depois irradiar para as próprias paróquias.

AE – A gesta missionária de Portugal é conhecida. No entanto, assistimos a uma Europa secularizada enquanto o continente africano dá passos na cristianização. Ainda faz sentido enviar missionários para o continente africano?

DB - A Teologia da Missão não tem geografia. A Missão começa com o baptismo e pela vivência da nossa fé. Há uma missão «ad intra» (dentro do próprio país) e uma missão «ad gentes» que continua a ser urgente e prioritária. Bento XVI fala-nos disso na mensagem para o Dia Mundial das Missões. O aspecto «ad gentes» continua prioritário, se bem que a missão inclua trabalhos no próprio país. Podemos encontrar situações «Ad Gentes» no próprio país.

AE – As Congregações Religiosas têm no seu horizonte a Missão «Ad Gentes». O clero Secular também está mobilizado para esta realidade missionária?

DB - Antigamente havia mais formação missionária e uma preocupação maior de criar círculos missionários no próprio seminário. Na diocese de Braga animei (Pe. Durães Barbosa é missionário Espiritano) uma academia missionária que existia dentro do próprio seminário. Actualmente, este aspecto é um pouco esquecido na formação, apesar de termos – com o apoio das Obras Missionárias Pontifícias (OMP) e dos Institutos Missionários Ad Gentes (IMAG) – um curso de Missiologia bienal, durante o mês de Agosto, com professores da Universidade Católica Portuguesa (UCP), mas não pode substituir uma formação missionária. Este curso não é suficiente. Tenho a impressão que este aspecto é descurado, apesar de Portugal ter uma responsabilidade histórica.

AE – Então era conveniente que a UCP leccionasse uma disciplina nesta área?

DB - Quando era Provincial da Congregação do Espírito Santo - apoiado por colegas dos IMAG - pedimos à UCP uma cadeira nesta área. Essa disciplina foi colocada, mas como opção. Verificámos que somente os alunos dos Institutos Missionários frequentavam essa cadeira, mas esses já respiravam o ambiente missionário. Esta disciplina não apanhou aqueles que necessitavam dessa formação. Passados alguns anos, o curso terminou. Temos que envolver mais os bispos para que esta dinâmica cative mais os seminaristas e os responsáveis dos seminários.

AE – A solução passa por uma nova metodologia com o intuito de devolver essa respiração missionária nas várias faixas etárias do povo português?

DB - Ela deve atravessar todas as faixas etárias. A Infância Missionária deve ser mais desenvolvida porque as crianças vibram com esta dimensão. Os jovens são muito sensíveis e abertos às experiências de voluntariado. Os adultos deverão ser alertados, tal como todas as camadas da Igreja com responsabilidade. Todos devem estar imbuídos deste espírito.

AE – A juventude portuguesa tem mostrado disponibilidade, através do voluntariado missionário.

DB - Os jovens estão disponíveis para dar algo mais aos outros. Experiências que se prolongam no tempo...

AE – Então há um florescimento vocacional nas congregações religiosas?

DB - Há bastante entusiasmo na juventude. Só que fazer uma ou duas experiências missionárias não é o mesmo que doar o resto da sua vida pelas missões. Apesar de alguns descobrirem a sua vocação nestas experiências.

AE – Se essa opção radical é difícil não deveriam apostar no marketing missionário?

DB - É necessária muita imaginação.

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