Nota Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa para o Ano Missionário e o Mês Missionário Extraordinário
“Todos, Tudo e Sempre em Missão”
1. Por motivo do centenário
da Carta Apostólica Maximum Illud, de 30 de novembro de 1919, do
Papa Bento XV, o Papa Francisco declarou o mês de outubro de 2019 “Mês
Missionário Extraordinário”, tendo como objetivo despertar para uma maior
consciência da missão e retomar com novo impulso a transformação missionária da
vida e da pastoral.
Em união com o Santo
Padre, queremos celebrar esse centenário apelando a um maior vigor missionário
em todas as dioceses, paróquias, comunidades e grupos eclesiais, desde os
adultos aos jovens e crianças.
Acolhendo com alegria a
proposta do Papa Francisco de um Mês Missionário Extraordinário para toda a
Igreja, nós, Bispos portugueses, propomo-nos ir mais longe e celebraremos esse
mês como etapa final de um Ano Missionário em todas as nossas Dioceses, de
outubro de 2018 a outubro de 2019.
Encontro pessoal com
Jesus Cristo
2. Desde o início do seu
pontificado, o Papa Francisco tem convidado todo o cristão, em qualquer lugar e
situação, a renovar o seu encontro pessoal com Jesus Cristo, a tomar a decisão
de se deixar encontrar por Ele e a procurá-l’O dia-a-dia, sem cessar. Repetidas
vezes, no seguimento dos seus antecessores, tem lembrado que a ação missionária
é o “paradigma de toda a obra da Igreja”. Assim sendo, não podemos ficar
tranquilos, em espera passiva: é necessário passar de uma pastoral de mera
conservação para uma pastoral decididamente missionária.
Com o “sonho missionário
de chegar a todos”, o Santo Padre tem incentivado a ir às periferias, a ir até
junto dos pobres, convidando os jovens a “fazer ruído”, a não “ficarem no sofá”
a verem a vida a passar. Convida a Igreja a não ficar entre si sem correr
riscos, mas ter a coragem de ser uma Igreja viva, acolhedora, dos excluídos e
dos estrangeiros.
3. No centro desta
iniciativa, que envolve a Igreja universal, estão a oração, o testemunho e a
reflexão sobre a centralidade da missão como estado permanente do envio para a
primeira evangelização (Mt 28,19). Trata-se de colocar a missão de
Jesus no coração da própria Igreja, transformando-a em critério para medir a
eficácia das estruturas, os resultados do trabalho, a fecundidade dos seus
ministros e a alegria que são capazes de suscitar, porque sem alegria não se
atrai ninguém.
Em estado permanente de
Missão
4. A preocupação que tinha
Bento XV há quase cem anos, e que o documento conciliar Ad gentes nos
recorda há mais de cinquenta anos, permanece plenamente atual. Lembrando as
palavras de São João Paulo II, “a missão de Cristo Redentor, confiada à Igreja,
está ainda longe do seu pleno cumprimento. Uma visão de conjunto da humanidade
mostra que tal missão está ainda no começo, e devemos empenhar-nos com todas as
forças no seu serviço… A missão renova a Igreja, revigora a sua fé e
identidade, dá-lhe novo entusiasmo e novas motivações. É dando a fé que ela se
fortalece! A nova evangelização dos povos cristãos há de encontrar também
inspiração e apoio no empenho pela missão universal”. Só assim nos constituímos
em “estado permanente de missão em todas as regiões da Terra”.
5. Se Bento XV convidava
“cada um a pensar que deve ser como que a alma da sua missão”, o Papa Francisco
diz que é tarefa diária de cada um “levar o Evangelho às pessoas com quem se
encontra, porque o anúncio do Evangelho, Jesus Cristo, é o anúncio essencial, o
mais belo, mais importante, mais atraente e, ao mesmo tempo, o mais necessário”
(EG 127).
Como discípulos
missionários, devemos entrar decididamente com todas as forças nos processos
constantes de renovação missionária, pois, hoje, cada terra e cada dimensão
humana são terra de missão à espera do anúncio do Evangelho.
Viver a Missão
6. O Papa Francisco indica
quatro dimensões para prepararmos e vivermos o Mês Missionário Extraordinário
de outubro de 2019:
·
Encontro pessoal com Jesus Cristo vivo na sua Igreja: Eucaristia, Palavra
de Deus, oração pessoal e comunitária.
·
Testemunho: os santos, os mártires da missão e os confessores da fé, que
são expressão das Igrejas espalhadas pelo mundo.
·
Formação: bíblica, catequética, espiritual e teológica sobre a missão.
·
Caridade missionária: ajuda material para o imenso trabalho da
evangelização e da formação cristã nas Igrejas mais necessitadas.
Estas dimensões de
oração, reflexão e ação propostas pelo Santo Padre, assim como o tema do Dia
Mundial das Missões em 2019 – “Batizados e enviados: a Igreja de Cristo em
missão no mundo” – estarão presentes nas várias iniciativas diocesanas ao longo
de todo o Ano Missionário, sempre centrados na Palavra e na Eucaristia:
“partilhar a Palavra e celebrar juntos a Eucaristia torna-nos mais irmãos e
vai-nos transformando pouco a pouco em comunidade santa e missionária”.
7. A missão dada por Jesus
aos seus discípulos é impressionante: uma missão ampla “por todo o mundo” (Mc 16,15),
“a todas as gentes” (Mt 28,19), eficaz nos “sinais” que a
acompanham (Mc 16,17), profunda e alegre, que só pode realizar-se
desde a experiência do Ressuscitado e a sua colaboração confirmada (Mc 16,20).
Do encontro com a Pessoa de Jesus Cristo nasce a Missão que não se baseia em
ideias nem em territórios, mas “parte do coração” e dirige-se ao coração, uma
vez que são “os corações os verdadeiros destinatários da atividade missionária
do Povo de Deus”.
8. As iniciativas e
atividades de cooperação missionária são dirigidas e coordenadas em toda a
parte, por mandato do Sumo Pontífice, pela Congregação para a Evangelização dos
Povos. Contudo, cabe às Igrejas locais, quer a nível nacional, através das
Comissões Episcopais das Missões, quer a nível diocesano, na pessoa do próprio
Bispo, tarefas semelhantes. A Congregação para a Evangelização dos Povos
serve-se, em cada país, das quatro Obras Missionárias Pontifícias (OMP)
[Propagação da Fé, Infância Missionária, São Pedro Apóstolo, União
Missionária], que sendo as Obras do Papa, são-no também do Episcopado e de todo
o Povo de Deus, devendo dar-se-lhes, com todo o direito, o primeiro lugar.
É por isso que apelamos
uma vez mais para que em todas as nossas dioceses surjam “Centros Missionários
Diocesanos (CMD) e Grupos Missionários Paroquiais (GMP), laboratórios
missionários, células paroquiais de evangelização que, em consonância com as
OMP e os Centros de animação missionária dos Institutos Missionários, possam fazer
com que a missão universal ganhe corpo em todos os âmbitos da pastoral e da
vida cristã”, que nos animem a ter a coragem de alcançar todas as periferias
que precisam da luz do Evangelho, numa missão total que deve envolver Todos,
Tudo e Sempre.
Renovação missionária
9. Ao longo deste Ano
Missionário, de outubro de 2018 a outubro de 2019, façamos todos – bispos,
padres, diáconos, consagrados e consagradas, adultos, jovens, adolescentes,
crianças – a experiência da missão. Sair. Irmos até uma outra paróquia, uma
outra diocese, um outro país em missão, para sentirmos que somos chamados por
vocação a sermos universais, ou seja, a termos responsabilidade não só sobre a
nossa comunidade, mas sobre o mundo inteiro.
Paulo VI interpela-nos a
“conservar o fervor do espírito e a suave e reconfortante alegria de
evangelizar, mesmo quando for preciso semear com lágrimas… É que o mundo do
nosso tempo que procura, ora na angústia, ora com esperança, quer receber a Boa
Nova dos lábios, não de evangelizadores tristes e desencorajados, impacientes
ou ansiosos, mas sim de discípulos missionários do Evangelho cuja vida irradie
fervor, pois foram quem recebeu primeiro em si a alegria de Cristo, e são
aqueles que aceitaram arriscar a sua própria vida para que o reino seja anunciado
e a Igreja seja implantada no meio do mundo”.
Não esqueçamos as novas
gerações e o mundo dos jovens, que nos chamam a construir uma pastoral
missionária “para” e “a partir” dos jovens. No contacto direto com eles, com as
suas esperanças e frustrações, anseios e contradições, tristezas e alegrias,
anunciemos as boas notícias da parte de Deus. Nesse contacto, à imagem do
Senhor Jesus, “o missionário não se irrita, não desanima, não despreza nem
trata com dureza… mas a todos procura atrair com bondade até aos braços de
Cristo, o Bom Pastor” (MI 43).
10. Que este Ano Missionário
se torne uma ocasião de graça, intensa e fecunda, de modo que desperte o
entusiasmo missionário. E que este jamais nos seja roubado! Nesse entusiasmo, a
formação missionária deve perpassar toda a nossa catequese e as escolas de
leigos, e ser inserida nos currículos dos Seminários e das Faculdades de
Teologia.
Celebremos este Ano
Missionário “sob a proteção de Maria, para que sejamos no mundo sentinelas da
madrugada que sabem contemplar o verdadeiro rosto de Jesus Salvador, aquele que
brilhou na Páscoa, e descobrir novamente o rosto jovem e belo da Igreja, que
brilha quando é missionária, acolhedora, livre, fiel, pobre de meios e rica no
amor”.
Fátima, 20 de maio de
2018, Solenidade do Pentecostes
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