Nota Pastoral para o Ano da Fé (III a V partes)

3.Transmitir a num mundo secularizado
Este Ano da pede-nos também que procuremos formas de transmitir a outros, porventura baptizados mas mais ou menos esquecidos deste bem fundamental, de novo, a inquietação do encontro com Deus revelado na pessoa do Seu Filho único Nosso Senhor Jesus Cristo, ressuscitado e vivo no meio de nós.  De facto, nós sentimos que vivemos numa sociedade marcadamente voltada par a resolução dos problemas imediatos, onde  às pessoas falta tempo e disponibilidade de energias para se fixarem nas dimensões mais importantes da vida; uma sociedade onde se  prometeu o Céu na terra e só a partir dos seus recursos materiais. O certo é que este Céu prometido nunca veio nem nunca virá, porque dele se retira o que é essencial à realização do ser humano – a sua relação com Deus e nele a gratuidade das relações humanas. Quando tudo na vida se subordina à satisfação de necessidades materiais e imediatas, onde as relações humanas, a começar pelas relações familiares, são prejudicadas por modelos de vida baseados  só na procura do bem estar material do  individuo e na competição desenfreada que daqui resulta, necessariamente faltam  o tempo e as energias para o que é mais importante na vida das  pessoas e consequentemente geram-se situações onde cresce a sua insatisfação  e a falta de esperaa, a atingir  limites de angústia que não são de estranhar. Perante esta generalizada situação muito característica da cultura actual, que, todavia, não consegue desfazer a sede de Deus, entendemos a recomendação que nos faz o Santo Padre na sua carta apostólica, ao dizer: “A Igreja no seu conjunto, e os pastores nela, como Cristo, devem pôr-se a caminho para conduzirem os homens, fora do deserto, para lugares da vida, da amizade  com o Filho de Deus, para Aquele que dá a Vida, a Vida em  plenitude”. É este saborear da vida em plenitude, da vida que não se esgota no consumo de bens materiais e tudo o que deles se espera, como são o poder e o prazer, que de facto está a fazer falta às pessoas. E esse é o grande dom inerente àem Nosso Senhor Jesus Cristo.

4. A coragem da numa cultura sem Deus.
Acontece que o mundo de hoje marcado por forte tendência para a secularidade, pretende  esquecer esta fundamental dimensão da existência humana. Através de processos variados, os modelos de vida hoje na mod pretendem prescindir de Deus e do valor fundamental da . E de tal maneira estão a impor-se às sociedades, sobretudo as de tipo europeu ocidental, como a nossa, que o Santo Padre sente necessidade de nos pôr de  sobreaviso quanto a considerarmos a como  um pressuposto, passando a preocupar-nos só com as suas consequências. De facto, avisa-nos ele, “esse pressuposto não só deixou de existir como frequentemente  acaba por ser negado” (ver Porta Fidei, nº 2). É também isto mesmo que a observação atent de muitos  dos nossos ambientes acaba por nos confirmar. Deus e a , para crescente número de pessoas e várias compreensões do mundo, são realidades irrelevantes e, portanto, dispensáveis, chegando mesmo, algumas vezes, a serem consideradas um obstáculo para a completa autonomia da pessoa humana e para o desenvolvimento enquanto tal.
Esta atitude de recusa de Deus e da que alguns tomam e em número crescente – em Portugal,  segundo dados de inquérito sociológico recente, esse número atinge os 4,5% da população – não consegue, todavia abafar a sede e a fome de Deus, que continuam a marcar a realidade do homem contemporâneo.  E, por isso, havemos de estar preparados e, quanto possível, criar as condições necessárias para que também os homens e mulheres de hoje possam, como a Samaritana, abeirar-se do poço de Jacob e encontrarem em Cristo aquela água viva que eles, na realidade procuram e lhes pode matar a sede de uma vez para sempre. (Ver Porta Fidei, nº 3) O nosso contributo de cristãos baptizados e discípulos de Cristo para isso poder acontecer está principalmente em fortalecermos a nossa pessoal e comunitária, alimentando-nos da Palavra de Deus e da Eucaristia. Viver com  entusiasmo a relação com Deus, em Cristo, é a melhor maneira de abrirmos caminho para que outros descubram também a riqueza decisiva da para as suas vidas. Queremos, também para isso,  redescobrir, ao longo deste  ano,  a alegria de crer e reencontrar o entusiasmo de comunicar a nossa .

5. Recomendações
O Santo Padre para este Ano da pede-nos a todos  nós, membros da Igreja, a começar pelos Bispos e outros pastores, principalmente o seguinte: que intensifiquemos a reflexão sobre a nossa , concretamente sobre cada um dos artigos do símbolo dos Apóstolos; que ajudemos todos os fiéis a tornarem mais consciente e a revigorarem a sua adesão ao Evangelho, em hora de tão profundas mudaas sociais como aquela que actualmente estamos a viver; que escolhamos momentos fortes para professarmos conjuntamente a nossa , seja nas catedrais e nas igrejas, seja nas casas e nas famílias.

Ora, sabemos que a Cristã não é fruto somente do exercício da inteligência e da faculdade da razão, como também não resulta espontaneamente do simples exercício da ciência e da técnica.
consiste essencialmente no dom que Deus faz de si mesmo às nossas pessoas, no quadro da vida em Igreja. Ao dar-se a Si mesmo,  o próprio Deus também nos comunica, com garantias da sua própria autoridade, um conjunto de verdades que são importantes para a compreensão da nossa vida pessoal e da vida do mundo. Mesmo antes de acolherem este dom de Deus nas suas próprias vidas, há muitas pessoas que, dizendo-se embora sem, vivem em busca sincera do sentido último e d verdade definitiva acerca da sua existência e do mundo. Podemos considerar esta procura um verdadeiro preâmbulo da .
É nossa obrigação estarmos atentos a todos os sinais  da  Fé e da procura de Deus que possamos descobrir na vida das pessoas para as ajudarmos, quanto possível, a seguir o caminho que as poderá levar a saborear o autêntico encontro salvador com o Senhor das nossas vidas.
É  de grande significado que o Santo Padre tenha escolhido a celebração do cinquentenário da abertura do Concílio Vaticano II para convocar o Ano da . Com isso ele quer dizer-nos que  o Concilio não só não perdeu atualidade, mas sobretudo que nós precisamos de repensar as formas de viver , tanto a nível pessoal como das nossas comunidades, para as  pôr  de acordo com o mesmo Concílio.
E nós desejamos acolher este apelo do Santo Padre, na vida da nossa Diocese, e fazemo-lo, antes de mais, continuando o empenho de promover nos fiéis e nas comunidades o verdadeiro encontro com a Palavra de Deus para fortalecermos e purificarmos a nossa .
Desejamos também iniciar, neste ano, um esforço especial para a receção  do Concílio Vaticano II na nossa vida pessoal e na vida das nossas comunidades. Este esforço  queremos prolongá-lo para além  do Ano da , promovendo o máximo envolvimento das comunidades cristãs, a começar pelos seus párocos e demais cooperadores pastorais, no processo de melhorar a nossa vivência da e virmos a  definir orientações próprias  para as nossas comunidades nos próximos tempos, segundo as diretrizes do Concílio.
Que Nosso Senhor Jesus Cristo e Sua Mãe Maria Santíssima estejam connosco  nesta caminhada de renovação da . Com a sua ajuda, vamos procurar responder, da melhor maneira, ao apelo do Santo Padre para aprofundarmos e revigorarmos a nossa pessoal, para promovermos em outros o entusiasmo pela Pessoa de Jesus e o Seu Evangelho, para professarmos, com novo vigor, a nossa e a testemunharmos no meio do mundo.

Guarda, 21 de Setembro de 2012

+ Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda

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