Ideias-força das Jornadas Missionárias 2024
As Jornadas Missionárias deste ano realizaram-se, como habitualmente, em Fátima, nos dias 21 e 22 de Setembro. Num ano dedicado à oração, em preparação para o Jubileu de 2025, as Jornadas tiveram como tema A oração dos discípulos missionários.
O seu principal orador e animador foi o Padre Dinh Anh Nhue Nguyen, Secretário-Geral da União Missionária Pontifícia (UMP). O Padre Anh Nhue, de 54 anos, é vietnamita, engenheiro electrónico e biblista e pertence à da Ordem dos Frades Menores Conventuais.
Convidou-nos a ir à escola de Jesus e a aprender com Ele a manter a comunhão permanente com Deus. Do leque de ensinamentos e partilha entre os cerca de 100 participantes, que tiveram lugar no auditório das Irmãs Concepcionistas ao Serviço dos Pobres, eis algumas das ideias-força que emergiram:
1.
A oração é o princípio da missão. A compaixão pelas pessoas leva Jesus a
recomendar a oração pelas vocações e a escolher os Seus discípulos para O
ajudarem a cuidar delas: “Ao ver as multidões, (Jesus) compadeceu-se
profundamente delas, porque estavam cansadas e abatidas como ovelhas que não
têm pastor. Disse, então, aos Seus discípulos: “A seara é grande, mas os trabalhadores
são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a Sua
seara” (Mt 9, 36-38).
2.
O acto de rezar é eminentemente missionário, ou como nos recordou
o Papa Francisco já este ano por ocasião dos 180 anos da fundação da Obra da
Infância Missionária, “A oração é a primeira acção missionária”.
Conscientes deste facto, as Obras Missionárias Pontifícias têm como tarefa
primeira a promoção da oração, juntamente com a promoção da informação missionária
e da solidariedade entre as Igrejas. Somos missionários desde logo através
da oração.
3.
A oração está no centro do dia típico da missão de Jesus (cf. Mc
1, 21-39). Ele começa o Seu dia a rezar na sinagoga de Cafarnaum, continua a
ensinar e a curar e “de manhã muito cedo, ainda escuro” (v. 35), retira-Se para
rezar num lugar solitário, antes de continuar o Seu ministério nas sinagogas da
Galileia. Além da oração na assembleia litúrgica das sinagogas, Jesus reza
muitas vezes no monte (Mt 14, 23), sozinho e à parte (Lc 9, 18), por
vezes com os salmos (cf. Mt 26, 30). Ele sente o desejo de intimidade silenciosa
com o Pai, mas na Sua oração tem presente a Sua missão e a educação dos
discípulos, como no baptismo (Lc 3, 21), antes da escolha dos doze (Lc
6, 12), no momento da transfiguração (Lc 9, 29) e antes do ensino do Pai
Nosso (Lc 11, 1).
4.
O Pai Nosso (Lc 11, 1-13; // Mt 6, 9-13), a única oração
que Jesus ensina aos Seus discípulos, reflecte a proximidade de Jesus ao Pai,
ao invocá-l’O como Pai (Abba), o termo usado pelas crianças para
dirigir-se ao progenitor, que supõe carinho, mas também respeito. O Pai Nosso é
definido como “a oração cristã fundamental” e “o resumo de todo o Evangelho (cf.
Catecismo da Igreja Católica, 2759-2772).
5.
A Oração do Senhor, que é o paradigma da oração cristã e missionária,
começa com dois pedidos paralelos: o da santificação do Seu nome e o da vinda
do Seu reino. São de certa forma complementares, porque onde Deus reina, o Seu
“nome”, ou seja, Ele próprio, é “santificado” e “glorificado”, o que significa
reconhecido como santo e adorado como tal (cf. Catecismo da Igreja Católica,
2807). Nestas invocações iniciais, vislumbra-se o grande desejo de Jesus pela
causa de Deus que Ele levava constantemente no Seu coração e que agora quer
transmitir aos Seus discípulos. Quem reza o Pai Nosso partilha o mesmo desejo
de Deus e de Cristo, sobre a realização da missio Dei, a missão de Deus
para a felicidade do homem.
6.
A oração é a condição que nos permite ser discípulos missionários. Por
isso, Jesus pede aos Seus discípulos que rezem com insistência e confiança
filial. A oração é o sustentáculo da vida cristã e missionária. É nela que somos
impulsionados a sair ao encontro dos outros, encontramos a força para não
desanimarmos perante as dificuldades e ganhamos a coragem para falar do nome de
Jesus, conscientes de que, como nos ensinou São Paulo VI, “Não haverá nunca
evangelização verdadeira se o nome, a doutrina, a vida, as promessas, o reino,
o mistério de Jesus de Nazaré, Filho de Deus, não forem anunciados” (Evangelii
Nuntiandi, 22).
7.
A oração dos discípulos, como a de Jesus, é orientada à missão. Depois
da Ascensão de Jesus, os discípulos regressam à sala de cima (cf. Act 1,
14), e “eram assíduos ao ensinamento dos apóstolos, à comunhão fraterna, à fracção
do pão e às orações (Act 2, 42). Após a libertação de Pedro e João (Act
4, 23-31), e perante o espectro da perseguição, os discípulos não pedem a Deus
protecção no perigo e incolumidade perante as ameaças, mas a força para
anunciarem “com total desassombro” a Palavra de Deus. A missão vale mais do que
a sua vida.
8.
O ideal cristão de orar “em todo o tempo” só é possível quando há “tempos
fortes da oração cristã, em intensidade e duração” (Cf. Catecismo da Igreja
Católica, 2697). A oração vocal, a meditação e a contemplação são as
três expressões principais da vida de oração (CIC, 2699-2719). As principais
formas da oração são: a oração de bênção e adoração, a oração de petição,
a oração de intercessão, a oração de acção de graças e a oração de louvor (CIC,
2626-2649).
9.
A oração de intercessão, através da qual abraçamos espiritualmente as
necessidades e anseios da humanidade e nos comprometemos a fazer o que está ao
nosso alcance para melhorar a sua sorte, tem uma grande dimensão missionária.
Ela é realçada pelo Papa Francisco na Evangelii Gaudium: “Há uma forma
de oração que nos incentiva particularmente a gastarmo-nos na evangelização e
nos motiva a procurar o bem dos outros: é a intercessão” (EG, 281).
10.
A Eucaristia é fonte e cume da vida e da missão da Igreja. A comunidade
cristã alimenta-se na Eucaristia, que é um mistério para ser celebrado e
vivido no Espírito Santo. A Eucaristia está ligada ao mandamento novo do
amor, ao mistério terrível da traição e da iniquidade (Mc 14, 18) e ao
compromisso indefectível de Jesus com o Reino (Mc 14, 17-25). O mistério
da comunhão com Jesus, como nos mostra o episódio dos discípulos de Emaús,
começa “no caminho” com a explicação das Escrituras (Lc 24, 13-35). “Uma
Igreja autenticamente eucarística é uma Igreja missionária”, escreveu o Papa
Bento XVI na Exortação Apostólica Pós-sinodal Sacramentum caritatis, 84.
E o Papa Francisco retomou esta ideia na sua Mensagem para o Dia Mundial das
Missões 2024, ao dizer: “Todos somos chamados a viver mais intensamente
cada Eucaristia em todas as suas dimensões, particularmente a escatológica e a
missionária. Reafirmo, a este respeito, que «não podemos abeirar-nos da mesa
eucarística sem nos deixarmos arrastar pelo movimento da missão que, partindo
do próprio Coração de Deus, visa atingir todos os homens» (Sacramentum
Caritatis, 84).
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